Sentirei sua falta. Sentirei muito a sua falta.
Com Amor, Catherine.
Verão de 2003.
O sol invade a janela e atravessa o quarto iluminando-o à medida que essa tarde avança, Jardins é uma cidade linda essa época do ano, o entardecer do dia escondendo as folhas das árvores, os frutos que caem dos pés e que sem querer pisamos nas flores que parecem desejar-lhe que tenhas uma boa noite. Nas praças e nos cantos da cidade, nas redomas dos campos, pela minha janela, pequenos milagres que confortam a ausência de Stefan, tudo me traz lembranças dele.
Minha família decidiu mudar-se para os gelados campos da serra, não entendo os motivos do meu pai, mas antes da noite chegar partiremos. Esse é meu ultimo contato com a minha realidade de hoje, em menos de um dia meu mundo desabou, procuro eu mesma razões para ficar.
Preparei uma carta para depositar em minha janela, desde que Stefan e eu nos conhecemos essa sempre foi a nossa forma falar, quando não estávamos no colégio ou nos becos da cidade, como meus pais nunca aprovaram nosso relacionamento, esse foi o jeito que encontramos de estar presente na vida um do outro cada minuto do dia, trocávamos cartas que ele buscará em minha janela.
Esta foi a carta mais difícil que já escrevi, há lágrimas nos meus olhos, um choro escondido, contido para não alarmar ninguém. Depois de tantas tentativas ela não vai além de uma frase, muito ingrato partir sem dar explicações, mas descobri que todo mais que eu tenho pra dizer só pode ser dito pessoalmente. Que ele me perdoe, pois a carta que pretendo escrever já foi escrita no meu peito, e a tinta não pode gravar o amor.
- Catherine, está na hora de nós irmos.
- Já estou descendo, me dê cinco minutos.
Uma ultima pausa na esperança de vê-lo correr até essa janela velha, mas ele não virá, não virá porque a tarde já está caindo, não virá porque brigamos, não virá porque eu disse a ele para não vir, sem saber que amanhã já não estaria mais aqui.
Viajamos em silêncio.
É noite, a chuva cai leve e fina sobre os telhados das casas, a estrada já está praticamente vazia e traz ventos gelados vindos do sul, é uma cidade alta, acima das colinas. De casas rústicas e tetos envergados de estilo suíço. Meus pais fizeram questão de transitar pela avenida principal para que conhecêssemos a cidade nova. Nossa casa é igual a todas as outras dos próximos cinco quarteirões, nos mudamos para uma vila projetada, cercada por bosques e pequenas colinas, não deu pra ver quase nada durante a noite, mas meu pai fez questão de contar cada detalhe.
Estou exausta, não dormi durante toda a viagem, meu caminho inteiro foi pensando nele, desejando que tenha lido minha carta, que estivesse em algum canto espiando nossa ida, deixei que duas lágrimas caíssem dos meus olhos.
Pensando em toda beleza que vi lá fora, talvez essa seja uma chance de começar uma nova vida, mas eu o trouxe comigo, ele continua presente ao meu lado e o carregarei mesmo que todo o novo seja maravilhoso. É uma promessa que me fiz, então adormeci.
Adormecer é tornar a realidade menos dolorosa e entrar para o mundo onde os sonhos refletem mais nitidamente as imagens da saudade, é mais real e mais dolorosa que a própria realidade. No sonho Stefan aparece no jardim da minha casa, eu tento explicar a razão do meu sumiço repentino, mas ele me olha com desprezo, é tão real que chego a sentir o gosto de mágoa no meu estômago, palavras jogadas, surradas, cheias de dor, de apego, de compreensão e de abandono.
(Continua..)
Gostou? Comente.